O sexo pode ser um elemento desestabilizador e o cinema sabe capturar esse lado B de forma muito perspicaz. Produções como “Repulsa ao sexo” (1965), de Roman Polanski, e Sangue ruim (1986), de Leos Carax, são exemplos dessa vertente de cinema mais preocupada em problematizar o sexo. Em revelar seu aspecto distópico.
“Sob a pele” (2013), em cartaz nos cinemas brasileiros, é o mais novo integrante desse rol. Mas a fita dirigida por Jonathan Glazer se distingue dos demais por não estar essencialmente interessado na rotina sexual, mas por se valer de instintos básicos como o desejo e a luxúria para elaborar sobre o que nos faz humanos. É um exercício interessante de digressão narrativa.
Na trama, Scarlett Johansson faz uma alienígena que aborda homens na rua de maneira aleatória. O desejo deles por ela será o que selará o destino trágico deles. Ela se alimenta de suas vítimas em uma metáfora visual que não só apresenta nudez frontal, de Scarlett e dos atores que encarnam suas vítimas, como torna esse canibalismo sexualizado muito mais imagético.
Tudo gira em torno de sexo em “Sob a pele”. É como se o desejo, sua intensidade, forma e adorno, nos definisse.
A atmosfera de “Sob a pele”, no entanto, não é exatamente sexy. Há um erotismo macabro à espreita. Uma sexualidade soturna, entre a inocência e a devassidão na jornada da personagem de Scarlett Johansson.
O fato de Glazer não se preocupar exatamente em produzir respostas para as perguntas que incita na platéia torna tudo ainda mais desorientador.
Certo em “Sob a pele” é a nudez sombreada e, ainda assim, magnânima de Scarlett Johansson. Essa nudez é um farol, mas também um subterfúgio narrativo, a iluminar nosso desejo.